Região da Serra do Amolar contribui para formar corredor de biodiversidade para proteção ambiental

Os registros de incêndios na Serra do Amolar estão sendo reduzidos a partir das ações de campo, efetivo aéreo dos Bombeiros de Mato Grosso do Sul no combate das chamas e chuvas pontuais que foram registradas na quinta-feira (1/2). A partir deste dia 2 de fevereiro, a situação do fogo ficou menos drástica. O trabalho agora é monitorar a área para garantir combate rápido no caso de focos maiores voltarem a aparecer. O Painel do Fogo, do SIPAM, aponta que a área já atingida pelas chamas destruiu cerca de 2,4 mil hectares no território.

A região da Serra do Amolar, no Pantanal, tem uma importância significativa para o ciclo de cheia no bioma. O biólogo no IHP, Wener Hugo Moreno, detalha que o território exerce diferentes funções.

“Formando uma barragem natural com a morraria que ocorre ao longo do Rio Paraguai, a Serra do Amolar, na planície de inundação, funciona como um funil que controla o fluxo das águas norte – sul que moldam o atraso do pulso de inundação, assim inundado as diversas baías e lagoas que se encontram na região acima. Caracterizando assim o chamado gargalo Paraguai”, explica.

Ele ainda relata sobre como o monitoramento do IHP no território vem mostrando relacionados ao ciclo da água e seu impacto para a vida selvagem.

“No Pantanal em si ainda carece de estudos que apresentem uma possível desertificação, porém o Pantanal está suscetível aos impactos causados em outras áreas que apresentam tal transformação, como a Amazônia, que literalmente dão origem aos chamados rios voadores, que carregam a maior parte das chuvas no Brasil, e assim influenciando nas chuvas no Pantanal. Sem as chuvas, há alterações no ciclo das águas na região. Foi notáveluma alteração nesse ciclo durante os últimos anos. Visto que o ciclo é de suma importância para os aspectos dos animais que aqui residem.”

O biólogo ressalta também que a Serra do Amolar compreende um território que forma um corredor de biodiversidade. Esse corredor envolve ações diretas do IHP com o programa Rede de Proteção e Conservação da Serra do Amolar, ou Rede Amolar. Por conta de diferentes medidas, o Instituto formou com parceiros um corredor de mais de 300 mil hectares, que compreende áreas de Reservas Particulares de Proteção Natural (RPPNs), o Parque Nacional do Pantanal Matogrossense e propriedades particulares. Os incêndios que começaram no dia 27 de janeiro de 2024 atingiram diretamente essa área do corredor de biodiversidade.

“A biodiversidade é necessária para um ecossistema equilibrado, e a manutenção da mesma requer, dentre outros fatores, o fluxo gênico, interações intra e interespecíficas, movimentos bióticos e abióticos do sistema. Tais aspectos só são compreendidos e acometidos se as áreas naturais forem preservadas em seu estado natural e com o mínimo de intervenção humana. Perdas na diversidade ecológica, provocadas por ações humanas, sejam elas fragmentação de habitats ou alterações no ambiente natural que ocasionam a transformação do habitat natural em algo diferente de sua característica. Assim, buscando a diminuição dos efeitos de fragmentação sobre a biodiversidade, passou a se criar áreas naturais protegidas, fundamentais para a conservação biológica. O intuito de proteção da beleza cênica, relevância histórica, recursos hídricos, manutenção do equilíbrio climático ecológico, preservação de recursos genéticos e propiciar o manejo adequado dos recursos naturais, desenvolvimento de pesquisas científicas, e fatores que constituem a estruturação da preservação in situ da biodiversidade como um todo.”

Ele ainda detalha. “Espécies essas que muitas se encontram em algum grau de ameaça para sua população e encontram nesses refúgios e corredores um abrigo para a vida. Proteção e conservação dos ambientes naturais assegurando condições para a existência ou reprodução de espécies ou comunidades da flora e da fauna residente ou migratória. A Rede de Proteção e Conservação da Serra do Amolar é uma parceria entre organizações proprietárias de terras destinadas a ações conservacionistas localizada no Pantanal do Rio Paraguai, em uma região junto à fronteira com a Bolívia, de isolamento geográfico e de descontinuidade na assistência de órgãos ambientais competentes”, explica o biólogo.

Wener Hugo reforça que a criação da Rede Amolar permitiu aumentar o potencial de proteção que o Parque Nacional do Pantanal Matogrossense prevê, a partir da iniciativa privada. “Protegendo uma área total de 272.952 ha, contando com unidades de conservação criadas oficialmente, e áreas protegidas por intenção dos proprietários, aumentando em 35% o território protegido. Contudo, existem dificuldades e benefícios no desenvolvimento da Rede, como respectivamente o envio de material e equipamentos para base das áreas protegidas e a criação de um fundo em comum para auxílio nas ações de todos os parceiros. A concepção da Rede não é um fato inédito, pois outros mosaicos de unidades de conservação existem no Brasil, no entanto reunir representantes dos três setores da sociedade, o setor governamental representado pelo ICMBio, o setor privado representado por empresas financiadoras, o não- governamental representado por ONGs traz novas oportunidades de negócios que visem a conservação.”

Histórico

O incêndio florestal foi iniciado no dia 27 de janeiro. Um pequeno proprietário rural da região pode ter começado o fogo na tentativa de limpar baceiro (vegetação flutuante que pode aglomerar-se de tal forma que cria pequenas ilhas que impedem o acesso a corixos ao longo do rio Paraguai) que estava no acesso para a propriedade. Ele chegou a ser informado sobre o início das chamas, após constatação do caso na central de monitoramento que o IHP possui em Corumbá. A Polícia Militar Ambiental também foi informada sobre o registro do início do incêndio para atuar na fiscalização.

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A Serra do Amolar

A região da Serra do Amolar, que está dentro do Pantanal, no município de Corumbá (MS), compreende um território de grande biodiversidade, é área de Reserva da Biosfera, além de ser um Patrimônio Natural da Humanidade. O território é formado por 80 km de extensão de morrarias que chegam a ter quase 1 mil de altitude. Essa área fica a cerca de 700 km de Campo Grande, a partir de Corumbá e por via fluvial. Só é possível chegar nesse local por ar ou pelo rio Paraguai.

Devido a várias particularidades, incluindo os seus elementos naturais, geográficos e ecológicos, a região tem potencial de abrigar espécies de plantas e animais que são de exclusividade da Serra do Amolar. Por ali, há interações de fatores geográficos, climáticos e ecológicos que criam ecossistemas particulares que não são encontrados em outras partes do Pantanal.

Além disso, trata-se de um território considerado uma barreira natural para o fluxo das águas, que se difere completamente de todo o restante do bioma. Ali existe uma variedade de terrenos e paisagens, áreas com características de Mata Atlântica, de Pantanal, de Amazônia, o que resulta na sua riqueza de biodiversidade.

Sobre o IHP

O Instituto Homem Pantaneiro (IHP) é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos. Fundado em 2002, em Corumbá (MS), atua na conservação e preservação do bioma Pantanal e da cultura local.

Entre as atividades desenvolvidas pela instituição destacam-se a gestão de áreas protegidas, o desenvolvimento e apoio a pesquisas científicas e a promoção de diálogo entre os atores com interesse na área.

Os programas que o Instituto atua são Rede Amolar, Cabeceiras do Pantanal, Amolar Experience, Felinos Pantaneiros, Memorial do Homem Pantaneiro, Brigada Alto Pantanal e Estratégias para Conservação da Natureza. Saiba mais em https://institutohomempantaneiro.org.br/. O IHP também integra o Observatório Pantanal.

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