Rede Amolar

Os esforços para a conservação da biodiversidade necessitam de grandes áreas, onde é possível criar corredores ecológicos que guardam a maior variedade possível de espécies vegetais e animais. Porém, quanto maior a área, mais difícil o acesso à mesma, como é o caso da região da Serra do Amolar, maiores são os investimentos de tempo, trabalho e capital para a prática de ações conservacionistas e de desenvolvimento social. Atuando sozinhos ou isolados, o governo e as entidades locais não conseguiriam cuidar destas áreas com a eficiência e a eficácia necessárias para a conservação da natureza e para o desenvolvimento local. Assim nasce a Rede de Proteção e Conservação da Serra do Amolar (Rede Amolar). 

A Rede Amolar é uma parceria entre organizações proprietárias de terras destinadas a ações conservacionistas. Foi criada em 2008, por iniciativa do Instituto Homem Pantaneiro (IHP), em conjunto com outras instituições envolvidas com conservação da natureza e atuantes no Pantanal. A Rede Amolar é atualmente o maior programa do IHP, e é realizado em parceria com organizações proprietárias de terras no Pantanal, destinadas a ações conservacionistas e socioeducativas ao longo do eixo do Rio Paraguai, nos estados de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, com o objetivo de unir diversos setores da sociedade. 

Suas ações ocorrem de forma conjunta entre IHP e instituições parceiras como Instituto Acaia Pantanal, Fazenda Santa Tereza, Fundação Ecotrópica, Parque Nacional do Pantanal Mato-grossense (PARNA Pantanal) e Policia Militar Ambiental. A Rede Amolar é formada por áreas com múltiplos usos e status de conservação, que têm em comum o compromisso de integrar a sustentabilidade ambiental, sem deixar de reconhecer que cada área é autônoma na sua gestão e possui objetivos diferentes. Sua formação foi uma iniciativa inovadora para a conservação de áreas naturais, pois une os três setores da sociedade: o primeiro, segundo e terceiros setores representados, respectivamente, pelo poder público, privado e organizações não governamentais (ONGs).

No entorno do Parna Pantanal, que é o coração da Rede, há áreas com diferentes usos e status de conservação: 

As RPPNs são representadas pelas seguintes áreas: RPPN Engenheiro Eliezer Batista, RPPN Rumo Oeste, RPPN Acurizal, RPPN Penha e RPPN Dorochê. As RPPNs Acurizal, Penha, Dorochê e Rumo Oeste, estabelecidas pela Portaria Ibama n.º 7, de 19 de fevereiro de 1997, pertencem à Fundação de Apoio à Vida nos Trópicos (Ecotrópica) e estão sob gestão do IHP. A RPPN Engenheiro Eliezer Batista, criada pela Portaria ICMBio n.º 51, de 24 de julho de 2008, é de propriedade e gestão do IHP;

Áreas de conservação que não são instituídas legalmente como UC: Fazenda São Gonçalo, Fazenda Santa Rosa, Fazenda Morro Alegre, Fazenda Vale do Paraíso e Sítio Serra Negra, sob gestão do IHP, e Fazenda Jatobazinho, sob gestão do Instituto Acaia Pantanal. Essas áreas, embora de pequena extensão, estão localizadas entre as RPPNs Acurizal e Engenheiro Eliezer Batista e, portanto, têm enorme importância como corredor de biodiversidade entre as UCs. A Fazenda Santa Teresa, que possui 63.000 hectares de área, dos quais apenas 3% são utilizados com atividade de pecuária, é uma área contígua à RPPN Engenheiro Eliezer Batista.

Tem-se como objetivo primordial proteger e conservar a biodiversidade da região. Dentro da Rede Amolar, a gestão das áreas acontece de modo colaborativo, incluindo a gestão compartilhada do PARNA Pantanal, sob o Acordo de Colaboração assinado entre ICMBio e IHP (acesse aqui)

No planejamento de gestão estão as ações de fiscalização, comunicação, pesquisa científica, prevenção e combate a incêndios florestais, que são realizadas de forma coordenada em todas as áreas da Rede Amolar. Com a otimização de recursos financeiros, técnicos e logísticos, a Rede Amolar busca identificar e implementar ações que contribuam diretamente para efetivar a proteção de áreas, assegurar a presença do Estado na região por meio da parceria público-privada, promover a integração harmônica entre conservação e desenvolvimento humano e, não menos importante, garantir a proteção e o conhecimento da biodiversidade por meio de estudos científicos.

1 - Gestão de Áreas

Para garantir e aperfeiçoar a gestão da Rede é importante compreender e enfrentar a complexidade da temática ambiental. Desta forma, o IHP definiu com os parceiros um modelo de governança, gestão e um conjunto de ações  prioritárias para fortalecer a conservação  deste grande mosaico e assegurar a proteção do Parque. Antes da criação da Rede, existia um quadro de abandono da população ribeirinha e ausência do estado na região 

A partir da criação do conceito de mosaico de áreas protegidas, ações secundárias foram decisivas para a proteção de áreas com alta biodiversidade fora dos limites do PARNA Pantanal, como, por exemplo, o mapeamento e a fiscalização com imagens via satélite das áreas da Rede e das nascentes e margens do Rio Paraguai. Com as ações aplicadas, a Rede criou condições e infraestrutura para que o Estado esteja presente por intermédio da Polícia Militar Ambiental e de outros órgãos de apoio nessa área de difícil acesso, para fiscalização de infrações ao meio ambiente e maior segurança e prestação de outros serviços para a população local. A Rede ainda implantou um sistema integrado de radiocomunicação e internet disponível aos moradores da região e à Polícia Militar Ambiental. 

As ações do IHP como gestor das áreas pertencentes à Rede são fundamentais para a manutenção das atividades que garantem a preservação do parque, seu entorno e a biodiversidade do pantanal. Abaixo algumas ações realizadas no eixo de Gestão de Áreas Protegidas: 

De forma geral, as ações são realizadas de forma coordenada em todas as áreas da Rede. Entretanto, ao longo do tempo, foi possível identificar que a efetividade das ações de conservação só é garantida se aliada ao desenvolvimento sustentável da comunidade no entorno, tratando de sanar conflitos já existentes através do apoio social, inserção profissional e geração de renda às comunidades ribeirinhas.

Desta forma, este projeto tem como mecanismos de participação comunitária a capacitação de agentes de desenvolvimento sustentável nas comunidades ribeirinhas do entorno das áreas da Rede, com foco no ecoturismo. No sentido de desenvolver atividades sustentáveis, a estratégia é agregar os saberes e fazeres dos moradores das áreas de entorno das Unidades de Conservação, gerando oportunidades de trabalho e renda, colaborando no afastamento dos autóctones da vulnerabilidade social em que geralmente se encontram. 

2 - Monitoramento Ambiental

As ações de monitoramento da biodiversidade, que constam nos Planos de Manejo do PARNA Pantanal e RPPNs que compõem a Rede Amolar, vêm sendo realizadas desde 2011 pelo Instituto Homem Pantaneiro. As ações aqui são destinadas à manutenção das atividades, apesar de serem um importante ativo para subsidiar iniciativas de fortalecimento e conservação do Pantanal, como por exemplo, através da criação de novas unidades de conservação e a manutenção dos títulos de biodiversidade, como o de Patrimônio Natural da Humanidade.

Portanto, este projeto tem como objetivo, subsidiar o monitoramento da biodiversidade da Serra do Amolar, para identificar processos e ações antrópicas que possam afetar a conservação das áreas e identificar as possíveis áreas de conservação legal na modalidade RPPN.

Para tal, pretende-se realizar o monitoramento da ocorrência das espécies, determinação de hotspots de diversidade, áreas sujeitas as alterações antrópicas e sazonalidade de processos

3 - Brigada Alto Pantanal

No ano de 2020, a região da Serra do Amolar foi atingida pelo fogo de forma intensa em quase sua totalidade. Segundo dados do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais do Departamento de Meteorologia da UFRJ (LASA), cerca de 90% das áreas que compõem a Rede do Amolar foram queimadas. Apesar do status de conservação criado pelo conjunto de reservas particulares da Rede do Amolar, as dimensões do impacto ainda são desconhecidas. 

A Brigada Alto Pantanal surge da necessidade de ações estratégicas para reduzir o impacto dos incêndios florestais, além de proteger a floresta, a vida e a propriedade das populações. Com o estabelecimento da Brigada, buscou-se

  1. Implementar brigadas permanentes encarregadas de realizar atividades de prevenção e manejo integrado do fogo, além do combate direto, quando necessário, na região do Alto Pantanal;
  2. Minimizar as consequências dos incêndios florestais, evitando a perda de vidas, danos materiais, ambientais e consequentes prejuízos econômicos e sociais;
  3. Desenvolver ações preventivas;
  4. Aprimorar as ações de atendimento aos incêndios florestais, à medida que são planejadas e divulgadas, com grande antecipação;
  5. Despertar os parceiros envolvidos nas atividades de preparação e treinamento das equipes envolvidas no desenvolvimento do plano, e
  6. Mitigar os impactos negativos para o equilíbrio do bioma Pantanal.

Em agosto de 2020, fomos contemplados com um prêmio da Flora and Fauna Internacional (UNESCO), através da Rapid Response Facility, visando fortalecer o combate a incêndios nas áreas de Pantanal do Parque Nacional do Pantanal Matogrossense e RPPNs do entorno, que carregam o título de Patrimônio Natural da Humanidade. 

Em seguida, em setembro de 2020, iniciamos uma campanha para criar uma brigada profissional que irá patrulhar as regiões da Serra do Amolar e Parque Nacional do Pantanal Matogrossense. A meta, com a campanha, era implementar duas equipes, sediando uma equipe ao norte e outra ao sul da região. Cada brigada, composta por 7 pessoas, foi estruturada e equipada com abafador, bomba costal, motosserra, roçadeira, bomba d’agua e mangueira acoplada, entre outros. Além do combate direto, a Brigada Alto Pantanal tem como objetivo atuar na prevenção e no Manejo Integrado do Fogo (MIF) do território de forma integrada. Com a realização da Campanha, o Instituto Homem Pantaneiro ficou responsável por viabilizar a implementação da Brigada Alto Pantanal na região da Serra do Amolar.

Finalizamos o ano de 2020, com recursos mínimos para implementar e custear as atividades da brigada em 2021. Desde então, a Brigada Alto Pantanal não parou mais. Além do combate intenso durante os incêndios de 2020, os brigadistas – altamente treinados e capacitados para atuar em situações desfavoráveis – têm trabalhado incessantemente por um Pantanal sem chamas, dedicando parte de seu tempo à prevenção e ao manejo integrado do fogo.

Em 2021, os brigadistas da Alto Pantanal estão desde janeiro trabalhando na prevenção. E este trabalho tem dado resultado. Focos de incêndio só chegaram próximo à região atendida pela Brigada Alto Pantanal em setembro. 

Abertura de aceiros e trilhas, melhoria nas já existentes, construção de ponte, abertura de áreas para serem usadas como helipontos e criação de rotas de fuga fizeram parte da rotina da Brigada Alto Pantanal ao longo deste ano. Desde janeiro, os brigadistas já atenderam mais de 70 ribeirinhos para falar sobre educação ambiental e sobre a necessidade de usar o fogo corretamente. A prevenção é o principal caminho a ser seguido. 

Também trabalhamos para que o combate seja mais eficiente, por exemplo, com a elaboração de mapas de acessos e pontos de apoio, pontos de comunicação, além de mapas de áreas prioritárias para prevenção e combate. Estes dados compõem o Plano Operativo de Combate a Incêndios Florestais da Serra do Amolar, disponível para download aqui (LINK DO PLANO NO RESEARCHGATE). 

Você pode acompanhar o trabalho da Brigada pelo Instagram @brigadaaltopantanal 

E pelo site www.brigadaaltopantanal.org.br

Acompanhe o trabalho da Brigada Alto Pantanal pelo Instagram

4 - REDD+ Serra do Amolar

Com os objetivos de contribuir com a conservação da biodiversidade, a mitigação das mudanças do clima e o desenvolvimento local, o grupo ISA   e a ISA CTEEP, em aliança com Panthera e South Pole, lançaram no Brasil, no final de 2019, o primeiro projeto do Programa Conexão Jaguar em parceria com a Rede de Proteção e Conservação da Serra do Amolar, gerida pelo Instituto Homem Pantaneiro.

O projeto REDD+ da Serra do Amolar, sob a direção do IHP , visa unir esforços para a conservação e sustentabilidade do Pantanal como corredor biológico e fonte de bem-estar para suas comunidades tradicionais. Para maximizar os meios e otimizar os recursos financeiros, técnicos e logísticos, o projeto REDD+ tem uma implementação gradual de atividades seguindo um plano estratégico tecnicamente orientado, baseado nas linhas do Programa Rede Amolar. 

Dentro do objetivo do Programa Rede do Amolar, o projeto de carbono florestal REDD+ tem um papel importante na conservação da biodiversidade, pois o monitoramento dos mamíferos e outros incentivos para a realização de pesquisas científicas, têm o objetivo de ajudar a manter essa conservação.  Ainda, o cobre cerca de 140.900 km2 de uma região que  apresenta altos risco de desmatamento, causado pela especulação de terras, associada às atividades pecuárias e agrícolas.

As atividades relacionadas ao projeto estão divididas em sete linhas estratégicas que incluem interações entre o IHP, comunidades locais e outras instituições no Pantanal que têm trabalhado juntas para alcançar seus objetivos de conservação, construindo objetivos comunitários e de biodiversidade. As linhas estratégicas fornecerão às partes interessadas um fluxo de renda para promover a redução da pobreza nas comunidades associadas, especialmente à medida que a governança é fortalecida, projetos são implementados e atividades são desenvolvidas para o monitoramento do Pantanal.

O projeto tem benefícios quantificáveis em termos de clima, comunidade e biodiversidade (CCB) porque proporciona emprego a tempo inteiro, formação e acesso às famílias que vivem na área do projeto e nos arredores, trazendo melhorias para uma região onde existem poucas oportunidades de emprego. Desta forma, com o projeto, procura melhorar as atividades em sete linhas estratégicas, e desenvolver novos esforços em ecoturismo, pesquisa, prevenção de incêndios e governança/administração.

Também atende aos critérios do Nível de Ouro GL3 – Benefícios excepcionais para a Biodiversidade, de acordo com o critério de vulnerabilidade descrito pela CCB por apresentar espécies criticamente ameaçadas (Lista Vermelha da IUCN) como uma espécie ameaçada – a ariranha (Pteronura brasiliensis) – e cinco espécies vulneráveis: a anta (Tapirus terrestris), o queixada (Tayassu pecari), o tatu-canastra (Priodontes maximus), o tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) e o mutum-de-penacho (Crax fasciolata). 

Para saber mais sobre o projeto, você pode acessar: 

 CONEXÃO JAGUAR 

VERRA –  Projeto REDD+ Serra do Amolar