Trecho da BR-262, entre Corumbá e Miranda, registra 21ª morte de onça-pintada

Um filhote de onça-pintada macho, com idade estimada abaixo de um ano, foi encontrado morto após ter sido atropelado na BR-262, em trecho entre Miranda e Corumbá, no Km 679, cerca 30 km após a entrada do Buraco das Piranhas. O caso foi atendido pela Polícia Militar Ambiental no dia 24 de junho de 2025 e comunicado à equipe do IHP na mesma data. O Observatório Rodovia Segura para Todos também foi notificado sobre o caso. A PMA tem trabalho de taxidermização e o corpo do animal foi recolhido.

Para a onça-pintada, o indíviduo é considerado adulto quando atinge a maturidade sexual, por volta de dois anos e meio. Estudos indicam que os filhotes tendem a andar com as mães até a idade de dois anos.

A onça-pintada é o Símbolo Brasileiro da Conservação da Biodiversidade. O Instituto Homem Pantaneiro (IHP) vem realizando o levantamento dos casos de atropelamento envolvendo a espécie no período entre 2016 e 2025, contabilizando até o dia 24/06/2025 a morte de 21 animais. Os outros casos podem ser consultados neste link.

Esse levantamento realizado pela equipe do IHP busca elaborar um recorte do impacto que o atropelamento pode causar para a espécie. Além disso, é importante ponderar que outras mortes de onças-pintadas em decorrência de atropelamentos podem ter ocorrido, porém não foram relatadas às autoridades ou a instituições, bem como o animal pode ter morrido em área distante da rodovia, sem ter ocorrida a visualização do mesmo.

Analista ambiental do IHP, Luka Gonçalves, explica os impactos para a biodiversidade nesse vídeo:

O último período mais crítico para a espécie em termos de atropelamento na BR-262 foi registrado em 2023. Naquele ano, foram três mortes por atropelamento entre janeiro e abril. Uma das mortes também ocorreu próximo ao Buraco das Piranhas. Uma relação que se assemelha neste ano com os casos de 2023 é que o Pantanal, no primeiro semestre, estava registrando aumento dos níveis de inundação. Ainda é preciso haver estudos, mas uma das possíveis evidências é que com áreas alagadas, os animais acabam utilizando-se mais da rodovia para transitar entre as regiões. A BR-262, no trecho do Pantanal, foi construído a partir de aterros.

Na lista vermelha da União Nacional para a Conservação da Natureza (IUCN, sigla em inglês), a onça-pintada está ameaçada. Pelo Salve, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a espécie está classificada como vulnerável. Além disso, a espécie tem uma importância fundamental para a biodiversidade do Pantanal e do Brasil e está em curso o segundo ciclo do Plano de Ação Nacional dos Grandes Felinos, do Centro de Pesquisa, Manejo e Conservação de espécies de mamíferos carnívoros (Cenap), vinculado ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

Desde que os atropelamentos de onças-pintadas, além de outros animais, mostraram-se uma situação grave na BR-262, há diferentes esforços para tentar mitigar a situação. O IHP vem conduzindo um estudo, desde 2023, sobre a utilização das pontes de vazante na rodovia como passagem de animais no período de estiagem. Para que essa medida possa ver mais viável, é feita a limpeza da vegetação, o que permite uma passagem facilitada aos animais. Já foram identificadas 50 espécies de animais usando as pontes de vazante limpas. Contudo, essa medida tem mais efetividade quando há o período de estiagem.

Além disso, o Instituto soma esforços com outras instituições a partir do Observatório Rodovias Seguras para Todos. Essa iniciativa coletiva foi fundada em setembro de 2024 por seis Organizações Não Governamentais dedicadas à conservação da biodiversidade no Mato Grosso do Sul. Além do IPÊ também fazem parte do Observatório: ICAS – Instituto de Conservação de Animais Silvestres, Instituto Homem Pantaneiro (IHP), Instituto Libio, Onçafari e SOS Pantanal. O objetivo é realizar a moderação social sobre as colisões veiculares com fauna em Mato Grosso do Sul.

Já existe aprovado um Plano de Migitação de Atropelamento de Fauna, o que ocorreu em novembro de 2024. Ele inclui ações como cercamento de trechos, passagens de fauna e radares. Porém, ainda não há previsão para o início dessas obras.

Mais dados

O Projeto Bandeiras e Rodovias monitora colisões veiculares com fauna silvestre na BR-262, de Campo Grande até a Ponte do Rio Paraguai (município de Corumbá), com o objetivo de identificar áreas críticas e espécies mais afetadas.

Esses são os dados já identificados:

  • De maio de 2023 a abril de 2024, foram encontrados 2300 animais vítimas de batidas, no trecho de Campo Grande até a ponte do Rio Paraguai, cerca de 350 km de estrada, abrangendo os biomas Cerrado e Pantanal, segundo o ICAS (Instituto de Conservação de Animais Silvestres).
  • Espécies mais atingidas: Tatus, anfíbios, jacarés e cachorros-do-mato foram as espécies mais frequentemente encontradas mortas.
  • Monitoramento contínuo: O estudo, com duração de um ano (até abril de 2024), incluiu inspeções quinzenais para avaliar sazonalidade e impacto.
  • Medidas de mitigação: Trechos com cercamento e passagens seguras, como pontes, já foram implementados, mas a eficácia precisa ser ampliada.
  • Iniciativa de suporte: Em 2021, foi lançado o “Manual de Orientações Técnicas para Mitigação de Colisões Veiculares com Fauna Silvestre”, fruto de uma parceria entre ICAS e outras entidades.

Sobre o IHP

O Instituto Homem Pantaneiro (IHP) é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos. Fundado em 2002, em Corumbá (MS), atua na conservação e restauração do Pantanal e para a valorização da cultura pantaneira. Entre as atividades desenvolvidas pela instituição destacam-se a gestão de áreas protegidas, o desenvolvimento e apoio a pesquisas científicas e a promoção de diálogo entre os atores com interesse na área.

Entre as atividades desenvolvidas pela instituição destacam-se a gestão de áreas protegidas, o desenvolvimento e apoio a pesquisas científicas e a promoção de diálogo entre os atores com interesse na área. As ações prioritárias do IHP são feitas nos pilares para proteção da biodiversidade, mitigação das mudanças climáticas e atuação conjunta com comunidades tradicionais e de povos originários para apoiar o desenvolvimento sustentável. O IHP também integra o Observatório Pantanal, o Observatório Rodovias Seguras, o GT de Coexistência Humano-Onça, os PANs Ariranha e Onça-pintada, além do Comitê Estadual do Fogo em Mato Grosso do Sul. Saiba mais em https://institutohomempantaneiro.org.br/

Tags :
Share This :

Uma resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *