O Pantanal está entre Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, bem como situado em uma porção da Bolívia e do Paraguai. O Dia do Pantanal, instituído em 2008 pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente e que em Mato Grosso do Sul tem a Lei nº 9.358/2010 para reafirmar compromissos de conservação, remonta a uma homenagem que foi feita ao ambientalista Francisco Anselmo de Barros, o Francelmo. Ele dedicou 25 anos de vida pela conservação do território e em 12 de novembro de 2007, em Campo Grande, ateou fogo no próprio corpo durante uma manifestação contra a instalação de usinas de álcool no Pantanal.
Francelmo foi membro fundador do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) e faleceu depois do protesto que participou. O ambientalista também é destacado na Lei de Mato Grosso do Sul, que foi proposta pelo deputado estadual Renato Câmara.
Agora em 2025, a data coincide também com a realização da COP30 em Belém (PA) e o IHP está presente neste debate global pela primeira vez, em mais de 20 anos de trabalho voltado para a conservação do Pantanal.
Para situar como o território pantaneiro tem importância global, o analista ambiental Wener Hugo Moreno detalha alguns pontos sobre o Pantanal.
Como o Pantanal contribui para o equilíbrio climático do Brasil e do planeta?
O Pantanal é reconhecido como a maior área úmida contínua do planeta, fundamental na regulação climática regional e continental. O pulso de cheias e vazantes funciona como um sistema natural de amortecimento hídrico, controlando fluxos de água e energia. Esses ciclos hidrológicos influenciam a umidade atmosférica da América do Sul, contribuindo para a manutenção do regime de chuvas. Além disso, a grande biomassa e os solos encharcados atuam como reservatórios de carbono, reduzindo o CO₂ atmosférico e estabilizando o clima global.
Quais são os serviços ambientais do Pantanal que ajudam a mitigar os efeitos das mudanças climáticas?
O Pantanal exerce papel fundamental na regulação hídrica, com a retenção e liberação gradual das águas da Bacia do Alto Paraguai, além de desempenhar função essencial na filtragem e manutenção da qualidade da água. Sua biodiversidade garante a diversidade biológica, a resiliência ecológica e a estabilidade climática, sustentando espécies-chave para a conservação. Destaca-se também no sequestro e armazenamento de carbono, pois a vegetação e os solos alagados acumulam matéria orgânica, atuando como sumidouros naturais de gases de efeito estufa.

O que acontece com o clima regional e global se o Pantanal perder sua capacidade de reter água e carbono?
A perda dessa capacidade resultaria em alterações no ciclo hidrológico da Bacia do Alto Paraguai, com secas mais intensas e/ou cheias mais abruptas. Haveria aumento das emissões de CO₂ (dióxido de carbono) e CH₄ (metano), uma vez que os solos degradados liberariam o estoque de carbono antes retido. O bioma também se tornaria mais vulnerável a queimadas e a eventos climáticos extremos, agravando o ciclo de retroalimentação entre desmatamento, aquecimento e perda de biodiversidade. Com a degradação do Pantanal, os impactos globais do aquecimento seriam ampliados, reduzindo a resiliência climática em escala continental.
Por que proteger áreas úmidas, como o Pantanal, é essencial para a agenda climática da COP30?
São estruturas naturais de regulação climática e hídrica. No contexto da COP30, sua preservação é essencial, pois contribui para a mitigação e adaptação às mudanças climáticas. Trata-se de um ecossistema transfronteiriço, que envolve cooperação internacional entre Brasil, Bolívia e Paraguai, voltada à garantia da segurança hídrica e alimentar de milhões de pessoas. Assim, o Pantanal representa um patrimônio da humanidade e da biosfera, conforme reconhecido pela UNESCO e pela Convenção de Ramsar. Um Pantanal conservado é uma forma concreta de agir localmente para mitigar os efeitos globais sobre o clima.

PERSPECTIVAS E COMPROMISSO FUTURO
O que significa pensar o futuro do clima a partir do Pantanal?
Adotar o Pantanal como um laboratório vivo de adaptação climática significa reconhecer a interação entre os ciclos naturais, a biodiversidade e as atividades humanas. O bioma demonstra que a gestão local e integrada dos recursos hídricos e da paisagem é essencial para promover a resiliência climática. Pensar o futuro do clima a partir do Pantanal é compreender que a sustentabilidade global começa na escala regional, onde políticas de uso da terra e de conservação devem ser planejadas e implementadas de forma articulada.
Como garantir que a conservação do bioma esteja integrada às decisões globais sobre clima e desenvolvimento sustentável?
O fortalecimento da governança institucional e jurídica, aliado à integração de políticas de uso do solo, da água e da biodiversidade entre os estados e países da Bacia do Alto Paraguai, é fundamental para reconhecer o valor ecossistêmico dos serviços ambientais. Isso inclui a criação de mecanismos de compensação e de pagamentos por serviços ambientais, promovendo aproximação entre a ciência, as políticas públicas e as comunidades locais, em uma abordagem de cogestão e corresponsabilidade.
Que compromissos o IHP e seus parceiros reafirmam no Dia do Pantanal e na COP30?
A defesa do Pantanal como patrimônio nacional e global, aliada ao fomento à pesquisa e ao monitoramento contínuo da paisagem e da biodiversidade, é essencial para o fortalecimento das redes de conservação, das brigadas e das unidades de manejo sustentável, buscando ampliar a resiliência socioambiental. Além disso, é fundamental promover o diálogo entre os diferentes atores que compõem essa região tão rica e diversa, integrando esforços em prol da sua proteção e do desenvolvimento sustentável.
Como cada pessoa pode contribuir para manter o Pantanal vivo e saudável?
Valorizar o consumo consciente e apoiar produtos e projetos sustentáveis do Pantanal são ações fundamentais. É preciso combater o desmatamento e o fogo ilegal, por meio de denúncias e do apoio a iniciativas de prevenção. Também é essencial promover a educação ambiental e o turismo sustentável, fortalecendo o vínculo entre cultura, natureza e economia local. Reconhecer o Pantanal como parte do equilíbrio climático global é defender políticas que assegurem sua proteção e o manejo sustentável dos seus recursos.

Sobre o Pantanal
Área: 138.183 km²
Ocupa 1,8% do território nacional
65% de seu território no estado de Mato Grosso do Sul
35% no Mato Grosso
Influenciado por quatro outros grandes biomas: Amazônia, Cerrado, Chaco e Mata Atlântica
Em 2000 foi reconhecido pela UNESCO como Reserva da Biosfera devido a sua exuberância e reserva natural diversificada
11 pantanais foram identificados por estudo da Embrapa Pantanal, cada um com características próprias de solo, vegetação e clima: Cáceres, Poconé, Barão de Melgaço, Paraguai, Paiaguás, Nhecolândia, Abobral, Aquidauana, Miranda, Nabileque e Porto Murtinho
Quase 2 mil espécies de plantas, como forrageiras, apícolas, frutíferas e madeireiras; algumas com princípios ativos com potencial para aplicação médica e outros usos
4,68% do Pantanal encontra-se em 28 unidades de conservação, das quais 6 correspondem a Unidades de Conservação de proteção integral e 22 a Unidades de Conservação de uso sustentável
Sobre documentos oficiais com relação ao Pantanal, acesse aqui.
Fonte: Embrapa Pantanal e Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas
SOBRE O IHP
O Instituto Homem Pantaneiro (IHP) é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos. Fundado em 2002, em Corumbá (MS), atua na conservação e restauração do Pantanal e para a valorização da cultura pantaneira.
Entre as atividades desenvolvidas pela instituição destacam-se a gestão de áreas protegidas, o desenvolvimento e apoio a pesquisas científicas e a promoção de diálogo entre os atores com interesse na área.
As ações prioritárias do IHP são feitas nos pilares para proteção da biodiversidade, mitigação das mudanças climáticas e atuação conjunta com comunidades tradicionais e de povos originários para apoiar o desenvolvimento sustentável. O IHP também integra o Observatório Pantanal, o Observatório Rodovias Seguras, o GT de Coexistência Humano-Onça, os PANs Ariranha e Onça-pintada, além do Comitê Estadual do Fogo em Mato Grosso do Sul. Saiba mais em https://institutohomempantaneiro.org.br/
