O trecho da BR-262, entre Corumbá e Miranda, teve o registro da 22ª morte de uma onça-pintada no dia 8/7 e como causa da morte foi o atropelamento. O corpo do animal foi encontrado cerca de 30 km distante do perímetro urbano de Miranda no sentido para Corumbá. O motorista que identificou o animal acionou a Polícia Militar Ambiental por volta das 4h, conforme registro.
Esse levantamento realizado pela equipe do Instituto Homem Pantaneiro (IHP) busca elaborar um recorte do impacto que o atropelamento pode causar para a espécie. Além disso, é importante ponderar que outras mortes de onças-pintadas em decorrência de atropelamentos podem ter ocorrido, porém não foram relatadas às autoridades ou a instituições, bem como o animal pode ter morrido em área distante da rodovia, sem ter ocorrida a visualização do mesmo.
A onça-pintada é o Símbolo Brasileiro da Conservação da Biodiversidade. O Instituto Homem Pantaneiro (IHP) vem realizando o levantamento dos casos de atropelamento envolvendo a espécie no período entre 2016 e 2025. Neste ano, o número de indíviduos da espécie que houve identificação de morte por atropelamento chega a três casos. Esse é o mesmo total identificado em 2023, outro período que pode ser considerado crítico no prazo de levantamento.
Registros de atropelamentos em 2025
08/07/2025 – indivíduo encontrado morto cerca de 30 km distante do perímetro urbano de Miranda no sentido para Corumbá
24/06/2025 – filhote macho morto no km 679, cerca de 30km após a entrada do Buraco das Piranhas
19/01/2025 – jovem fêmea morta encontrada perto da região do Buraco das Piranha
Analista ambiental do IHP, Luka Gonçalves, explica os impactos para a biodiversidade nesse vídeo:
O último período mais crítico para a espécie em termos de atropelamento na BR-262 foi registrado em 2023. Naquele ano, foram três mortes por atropelamento entre janeiro e abril. Uma das mortes também ocorreu próximo ao Buraco das Piranhas. Uma relação que se assemelha neste ano com os casos de 2023 é que o Pantanal, no primeiro semestre, estava registrando aumento dos níveis de inundação. Ainda é preciso haver estudos, mas uma das possíveis evidências é que com áreas alagadas, os animais acabam utilizando-se mais da rodovia para transitar entre as regiões pantaneiras. A BR-262, no trecho do Pantanal, foi construído a partir de aterros.
Na lista vermelha da União Nacional para a Conservação da Natureza (IUCN, sigla em inglês), a onça-pintada está ameaçada. Pelo Salve, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a espécie está classificada como vulnerável. Além disso, a espécie tem uma importância fundamental para a biodiversidade do Pantanal e do Brasil e está em curso o segundo ciclo do Plano de Ação Nacional dos Grandes Felinos, do Centro de Pesquisa, Manejo e Conservação de espécies de mamíferos carnívoros (Cenap), vinculado ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Desde que os atropelamentos de onças-pintadas, além de outros animais, mostraram-se uma situação grave na BR-262, há diferentes esforços para tentar mitigar a situação. O IHP vem conduzindo um estudo, desde 2023, sobre a utilização das pontes de vazante na rodovia como passagem de animais no período de estiagem. Para que essa medida possa ver mais viável, é feita a limpeza da vegetação, o que permite uma passagem facilitada aos animais. Já foram identificadas 50 espécies de animais usando as pontes de vazante limpas. Contudo, essa medida tem mais efetividade quando há o período de estiagem.
Atuação conjunta
O IHP soma esforços com outras instituições a partir do Observatório Rodovias Seguras para Todos. Essa iniciativa coletiva foi fundada em setembro de 2024 por seis Organizações Não Governamentais dedicadas à conservação da biodiversidade no Mato Grosso do Sul. Além do IPÊ também fazem parte do Observatório: ICAS – Instituto de Conservação de Animais Silvestres, Instituto Homem Pantaneiro (IHP), Instituto Libio, Onçafari e SOS Pantanal. O objetivo é realizar a moderação social sobre as colisões veiculares com fauna em Mato Grosso do Sul.
Já existe aprovado um Plano de Migitação de Atropelamento de Fauna, o que ocorreu em novembro de 2024. Ele inclui ações como cercamento de trechos, passagens de fauna e radares. Porém, ainda não há previsão para o início dessas obras.
Mais dados
O Projeto Bandeiras e Rodovias monitora colisões veiculares com fauna silvestre na BR-262, de Campo Grande até a Ponte do Rio Paraguai (município de Corumbá), com o objetivo de identificar áreas críticas e espécies mais afetadas.
Esses são os dados já identificados:
- De maio de 2023 a abril de 2024, foram encontrados 2300 animais vítimas de batidas, no trecho de Campo Grande até a ponte do Rio Paraguai, cerca de 350 km de estrada, abrangendo os biomas Cerrado e Pantanal, segundo o ICAS (Instituto de Conservação de Animais Silvestres).
- Espécies mais atingidas: Tatus, anfíbios, jacarés e cachorros-do-mato foram as espécies mais frequentemente encontradas mortas.
- Monitoramento contínuo: O estudo, com duração de um ano (até abril de 2024), incluiu inspeções quinzenais para avaliar sazonalidade e impacto.
- Medidas de mitigação: Trechos com cercamento e passagens seguras, como pontes, já foram implementados, mas a eficácia precisa ser ampliada.
- Iniciativa de suporte: Em 2021, foi lançado o “Manual de Orientações Técnicas para Mitigação de Colisões Veiculares com Fauna Silvestre”, fruto de uma parceria entre ICAS e outras entidades.
Sobre o IHP
O Instituto Homem Pantaneiro (IHP) é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos. Fundado em 2002, em Corumbá (MS), atua na conservação e restauração do Pantanal e para a valorização da cultura pantaneira.
Entre as atividades desenvolvidas pela instituição destacam-se a gestão de áreas protegidas, o desenvolvimento e apoio a pesquisas científicas e a promoção de diálogo entre os atores com interesse na área. As ações prioritárias do IHP são feitas nos pilares para proteção da biodiversidade, mitigação das mudanças climáticas e atuação conjunta com comunidades tradicionais e de povos originários para apoiar o desenvolvimento sustentável.
O IHP também integra o Observatório Pantanal, o Observatório Rodovias Seguras, o GT de Coexistência Humano-Onça, os PANs Ariranha e Onça-pintada, além do Comitê Estadual do Fogo em Mato Grosso do Sul. Saiba mais em https://institutohomempantaneiro.org.br/