Comunidades e escolas em áreas remotas do Pantanal participam de curso internacional de primeiros socorros

Professores, agentes de saúde, moradores de comunidades ribeirinhas e indígenas, brigadistas, médicos-veterinários, biólogos, piloteiros integraram duas turmas para serem formadas no Curso de Primeiros Socorros em Áreas Remotas, promovido pelo Instituto Homem Pantaneiro (IHP) e financiado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) no âmbito do Projeto Estratégias de Conservação, Restauração e Manejo para a biodiversidade da Caatinga, Pampa e Pantanal (GEF Terrestre), que é coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) e tem o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) como agência implementadora e o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade – FUNBIO como agência executora.

Esse treinamento formou 28 pessoas, foi realizado entre os dias 12 e 17 de maio, na RPPN (Reserva Particular de Patrimônio Natural) Acurizal, e atende a uma demanda de aumento da segurança no caso de ocorrências graves, como incêndios, ataque de animais, bem como em exigência legal da Lei n. 13.722, de 2018. A Lei Lucas, como é conhecida, determina que cursos de primeiros socorros sejam realizados para professores de escolas públicas e privadas, de ensino infantil e básico, para atuarem em situações emergenciais enquanto a assistência médica especializada não for proporcionada.

Integrantes das escolas Jatobazinho, na comunidade do Paraguai-mirim; da Escola Municipal Rural de Ensino Integral Polo São Lourenço e Extensões, que atende as comunidades Amolar, Aterro do Binega e a comunidade indígena Barra do São Lourenço; e da Escola Estadual João Quirino de Carvalho – Toghopanãa, na Aldeia Uberaba Guató, participaram da formação. O certificado do curso tem validade de 2 anos e reconhecimento internacional, por meio da WFA (Wilderness First Aid).

O diretor presidente do IHP, Angelo Rabelo, aponta que a proposta da capacitação é permitir melhor preparo das comunidades na região do Alto Pantanal para agir em casos de emergências. Ele ressalta que ainda não existe atendimento médico permanentemente presente nessa região. “Estamos falando de áreas remotas no Pantanal, distante mais de 200 km de Corumbá, onde só se chega após horas de navegação, ou é preciso apoio aéreo, mas que depende das condições para conseguir pousar. Esse curso permite entendimento sobre como agir em momentos graves para aumentar as chances de proteção de vidas.”

Francisca Vasques é professora indígena da Aldeia Uberaba, etnia Guató, com turmas do 1º ao 9º ano e integrou grupo que realizou o curso. “Dou aula de língua indígena na minha comunidade para revitalizar a nossa língua guató e é super importante também ter essa compreensão melhor no atendimento de emergências. Já passamos alguns sufocos, com afogamentos, quedas de crianças. Agora tenho um conhecimento melhor de como proceder. Tudo que foi ensinado vai ser repassado em sala de aula.”

Já Ana Almeida dos Reis dá aulas na escola municipal instalada no Aterro do Binega, que atende outras comunidades. “O curso fornece para gente um grande impacto, são situações fortes que podemos passar nesses locais remotos e de difícil acesso. Ao mesmo tempo, é muito importante ter esse treinamento para estarmos mais preparados para saber como agir. Na escola, vivemos em comunidade. Temos colegas de trabalho, alunos alojados e a comunidade no entorno.”

O curso envolveu atividades teóricas, para mostrar cenas reais de diferentes acidentes que podem ocorrer e procedimentos a serem feitos. Os integrantes, depois, precisam realizar a prática e precisam repetir os diferentes protocolos envolvidos para simular situações como quedas graves, lesões, cortes, ataque de animais. A simulação também ocorreu com os alunos precisando promover um resgate em local de difícil acesso, em meio à mata, durante a noite. As áreas de floresta dentro da RPPN foram utilizadas para permitir melhor condição para o treinamento.

Cada integrante do curso ainda levou para a escola que atua ou na comunidade que vive material de consulta para repassar o ensinamento para outras pessoas, como forma de ampliar o conhecimento.

Marcos Padilha foi professor no curso e é o proprietário da Padilha Treinamentos, que acompanha expedições em diferentes regiões remotas do mundo. “O treinamento que foi realizado envolveu técnicas, protocolos e também o uso de equipamentos, como o desfibrilador externo automático. Foram ensinadas várias técnicas de atendimento de emergência em local remoto, com evacuação, remoção, reanimação cardiopulmonar, controle de hemorragias, casos clínicos. Falamos muito também de prevenção de acidentes e como fazer isso.”

Brigadistas e a Travessia Guadakan

A viabilização do curso também atende a uma demanda para aumentar o grau de segurança para a realização da Travessia Guadakan, que é de longa distância e que é realizada na Serra do Amolar, e desenvolvida pelo IHP. Atualmente, a travessia tem 30 km de morraria para ser vencida e outro trecho a ser feito com caiaque. Essa trilha está em formatação para chegar a 60 km de extensão e integra o projeto de Criação e Implementação de Trilhas de Longo Curso, financiado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) no âmbito do Projeto Estratégias de Conservação, Restauração e Manejo para a biodiversidade da Caatinga, Pampa e Pantanal (GEF Terrestre), que é coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) e tem o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) como agência implementadora e o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade – FUNBIO como agência executora.

A Travessia Guadakan é uma iniciativa do IHP para desenvolver o turismo de aventura voltado para a conservação do Pantanal. Além disso, ela representa em importante recurso de atuação da Brigada Alto Pantanal, mantida pelo Instituto, para prevenir incêndios florestais na região da Serra do Amolar.

Os integrantes da brigada do IHP também realizaram o curso. Arilson Borges integra a equipe e é um dos brigadistas que utiliza a trilha no trabalho de proteção do território. “A gente vive em uma área remota e aprendemos técnicas que acabamos usando muito no dia a dia, principalmente pensando na prevenção dos acidentes e emergências. Para um primeiro atendimento, é fundamental a gente saber o que fazer até a chegada de uma equipe especializada. Como a gente também atende comunidades, vamos poder dar apoio para eles também. Vamos falar muito também do que aprendemos nas educações ambientais que fazemos.”

Sobre o IHP

O Instituto Homem Pantaneiro (IHP) é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos. Fundado em 2002, em Corumbá (MS), atua na conservação e restauração do Pantanal e para a valorização da cultura pantaneira. Entre as atividades desenvolvidas pela instituição destacam-se a gestão de áreas protegidas, o desenvolvimento e apoio a pesquisas científicas e a promoção de diálogo entre os atores com interesse na área.

Entre as atividades desenvolvidas pela instituição destacam-se a gestão de áreas protegidas, o desenvolvimento e apoio a pesquisas científicas e a promoção de diálogo entre os atores com interesse na área. As ações prioritárias do IHP são feitas nos pilares para proteção da biodiversidade, mitigação das mudanças climáticas e atuação conjunta com comunidades tradicionais e de povos originários para apoiar o desenvolvimento sustentável. O IHP também integra o Observatório Pantanal, o Observatório Rodovias Seguras, o GT de Coexistência Humano-Onça, os PANs Ariranha e Onça-pintada, além do Comitê Estadual do Fogo em Mato Grosso do Sul. Saiba mais em https://institutohomempantaneiro.org.br/

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