O Pantanal passa a contar com o primeiro posto médico-veterinário avançado em área remota do Brasil para atender animais silvestres em situações de desastre ambiental, como é o caso de incêndios florestais. A unidade está instalada na Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN) Acurizal, na Serra do Amolar, e é mantida pelo Instituto Homem Pantaneiro (IHP), com apoio de parceiros. A Base de Resgate Técnico Animal (Barta) é uma estrutura inédita no país que foi estruturada depois dos incêndios de 2020, a partir do conhecimento científico das instituições que integram o Grupo de Resgate Técnico Animal Cerrado Pantanal (Gretap), além de ter contado com apoio do World Animal Protection (WAP).
A licença de funcionamento da Barta foi emitida pelo Instituto de Meio Ambiental de Mato Grosso do Sul (Imasul) neste mês de outubro de 2025.
Essa nova estrutura é fixa, licenciada para o Pantanal sul-mato-grossense e está preparada para atender animais selvagens atingidos por situações de desastre na região do Alto Pantanal, onde a ajuda é complexa por conta da localização remota. Além disso, nesse território, monitoramento contínuo do IHP já identificou mais de uma centena de espécies de animais, entre elas há mais de 10 com algum grau de ameaça.
A analista ambiental Franciele Oliveira, que é a responsável técnica pela Barta, explica que a unidade tem condições de aumentar a sobrevida da biodiversidade e ainda pode permitir atendimentos emergenciais também para animais domésticos na região do Alto Pantanal.
“A Barta nasceu da dor e da urgência dos incêndios de 2020, quando o Instituto Homem Pantaneiro, junto com o Gretap e outros parceiros entenderam que era preciso uma resposta permanente à altura dos desafios da região. Hoje, ela representa esperança, compromisso e cuidado com a vida no coração do Pantanal. Poderá ser oferecida uma resposta rápida e qualificada à fauna afetada por desastres ambientais e sua principal função é realizar o atendimento emergencial e a estabilização clínica de animais silvestres e domésticos em situação de risco, garantindo socorro imediato dentro do próprio bioma, algo inédito no país, aumentando as chances de sobrevivência até o encaminhamento seguro ao Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS) de Campo Grande (MS), quando necessitam de cuidados prolongados”, detalha Franciele.
Além do resgate e atendimento emergencial em situação de desastre, a Barta apoia a prevenção e promoção da saúde única. O trabalho dos analistas médicos-veterinários envolvidos busca apoiar ações que integram o cuidado com a fauna, o ambiente e as comunidades locais. Também vai promover treinamentos práticos de resgate técnico animal e atividades de educação ambiental. O intuito é fortalecer a conscientização sobre a importância da conservação da vida no Pantanal.
Funcionamento
Em casos de emergencias, as equipes do IHP sempre realizam buscas ativas em áreas que foram atingidas pelo fogo. Os técnicos seguem protocolos de resgate, contenção e estabilização clínica de animais silvestres e domésticos. O Imasul regula as normas estabelecidas que precisam ser aplicadas nesses casos.
Depois que acontece o resgate, os animais passam por avaliação e atendimento imediato na base e, na maioria das vezes, são encaminhados ao Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS) para reabilitação e acompanhamento. Cada atendimento é registrado e posteriormente reportado aos órgãos ambientais competentes para garantir a legalidade e a transparência das ações.
Principais atividades
• Treinamentos práticos e capacitações em resgate técnico animal para médicos-veterinários, biólogos e brigadistas;
• Ações de educação ambiental com comunidades locais e escolas ribeirinhas e indígenas;
• Atividades contínuas de monitoramento e resgate de fauna, realizadas pelo próprio IHP;
• Apoio a iniciativas de prevenção e promoção da saúde única, integrando o bem-estar dos animais, das pessoas e do ambiente.
Equipe multidisciplinar
A unidade da Barta precisa contar com equipe multidisciplinar e capacitada para conseguir atender no resgate e atendimento da fauna pantaneira. Integram a base médicos-veterinários (responsáveis pelos atendimentos), biólogos (acompanhar manejo, identificação e monitoramento das espécies), além de brigadistas e técnicos ambientais (suporte para as operações de campo, captura e transporte da fauna silvestre).
“A Barta representa um marco histórico na conservação e no cuidado com a fauna do Pantanal. Antes dessa unidade estar regulamentada, os resgates dependiam de longos deslocamentos até centros urbanos, o que reduzia drasticamente as chances de sobrevivência dos animais. Além de salvar vidas, a base fortalece o trabalho integrado entre resgate, ciência e educação ambiental”, explica Franciele Oliveira.
Estrutura da Barta
A estrutura conta com ambientes destinados ao atendimento, estabilização e apoio técnico, incluindo:
• área de preparo e assepsia;
• sala de procedimentos e estabilização;
• almoxarifado veterinário para insumos e medicamentos;
• setor de esterilização e suporte técnico.
Entre os principais equipamentos estão mesa de procedimento, foco cirúrgico, autoclave, refrigerador, cilindro de oxigênio, projetor de dardos, zarabatana, cambões, redes, macas, caixas de transporte e kits de contenção.
SOBRE O IHP
O Instituto Homem Pantaneiro (IHP) é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos. Fundado em 2002, em Corumbá (MS), atua na conservação e restauração do Pantanal e para a valorização da cultura pantaneira.
Entre as atividades desenvolvidas pela instituição destacam-se a gestão de áreas protegidas, o desenvolvimento e apoio a pesquisas científicas e a promoção de diálogo entre os atores com interesse na área.
As ações prioritárias do IHP são feitas nos pilares para proteção da biodiversidade, mitigação das mudanças climáticas e atuação conjunta com comunidades tradicionais e de povos originários para apoiar o desenvolvimento sustentável. O IHP também integra o Observatório Pantanal, o Observatório Rodovias Seguras, o GT de Coexistência Humano-Onça, os PANs Ariranha e Onça-pintada, além do Comitê Estadual do Fogo em Mato Grosso do Sul. Saiba mais em https://institutohomempantaneiro.org.br/