‘Jardineira’ das florestas, antas são encontradas no Pantanal e IHP faz monitoramento

A Anta é considerada essencial para o equilíbrio do Pantanal. Ela, que tem o nome científico Tapirus terrestris, é o maior mamífero terrestre da América do Sul e sua contribuição para a biodiversidade do território onde habita funciona como uma verdadeira engenheira ecológica.

Sua presença é vital para o equilíbrio dos ecossistemas, pois, ao se alimentar de frutos e dispersar sementes por longas distâncias, contribui para a regeneração das florestas e a manutenção da biodiversidade.

Na Serra do Amolar, um dos berços mais ricos da vida pantaneira e reconhecida como Patrimônio Natural da Humanidade pela UNESCO, o Instituto Homem Pantaneiro (IHP) realiza monitoramentos ambientais para estudar e proteger a fauna. A anta, símbolo da riqueza natural do Pantanal, é uma das espécies monitoradas em nossas ações.

O monitoramento dela contribui para fomentar dados para pesquisas científicas, gera informações importantes para o projeto de crédito de carbono que o IHP executa no Pantanal e é certificado. Como os incêndios florestais afetam as antas? Acesse pesquisa desenvolvida pelo IHP com parceiros aqui.

Dados do Salve ICMBio

Categoria:
Vulnerável (VU)
Data da categoria: 08/02/2018
Ano da publicação: 2023
Tapirus terrestris é uma espécie de ampla distribuição no Brasil e dependente de habitats florestais e ripários. O Brasil perdeu 30% de sua cobertura vegetal nativa nos últimos 33 anos, ou três gerações da anta, e a espécie deve ter sofrido perdas populacionais em mesma proporção, ou maior devido à expansão agropecuária (agronegócio) e consequente perda e fragmentação de habitat, fogo, atropelamentos, contaminação por agrotóxicos, pressão de caça, expansão de centros urbanos entre outras ameaças. Essas perdas devem continuar e, portanto, a espécie é classificada como VU A2cd.

Endêmica do Brasil? Não

Distribuição Global:
A anta brasileira tem ampla distribuição geográfica, estendendo-se desde o Norte da Colômbia a Leste da Cordilheira dos Andes, através de grande parte da América do Sul até o Nordeste da Argentina e Paraguai, em elevações de até 2.000 m (Hershkovitz, 1954; Medici et al., 2007; Taber et al., 2007; Medici, 2011). A espécie ocorre em 11 países – Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Paraguai, Peru, Suriname e Venezuela – e 21 eco-regiões diferentes.

Originalmente, a distribuição histórica da espécie cobria cerca de 13.129.874 km². Em 2005, a espécie foi considerada extinta em 14% desta área, sendo que, no Brasil, as principais reduções foram no nordeste e sul (Taber et al., 2007). De acordo com dados do IBGE (2012), no período de 2010 a 2012 o Brasil perdeu 1,8% de sua vegetação florestal (59.230 km², predominantemente Amazônia e Mata Atlântica) e 7,8% de vegetação natural não arbórea (149.670 km², predominantemente Cerrado e Caatinga) o que, projetado para 33 anos, ou três gerações da espécie, representa 30% ou mais de perda de habitat e declínio populacional associado. Os dados de conversão de áreas nativas em áreas cultivadas para o período entre 2000 e 2010, segundo o IBGE (2012), demonstram ainda um grande crescimento das áreas de pastagens plantadas (38,8% ou 240.600 km²) e áreas agrícolas (19,2% ou 77.700 km²), o que corrobora na redução de habitat apropriado para a sobrevivência da espécie.

No Pantanal, onde é observada uma perda de habitat de 0,47% por ano (conversão de habitat em pastagens) (MMA, 2007), estima-se que 15,5% da área do bioma será perdida em 33 anos (três gerações da anta brasileira), levando a uma consequente redução na distribuição da espécie no bioma. De qualquer forma, é indiscutível que o Pantanal permanece como um dos biomas mais importantes para a manutenção de populações viáveis da anta brasileira.

Ameaças à espécie

Uma análise de ameaças realizada durante o Workshop de Population and Habitat Viability Assessment (PHVA) para a Anta Brasileira identificou as ameaças principais para cada um dos 21 biomas onde a espécie ocorre (Medici et al., 2007). Para os biomas brasileiros, as ameaças listadas em ordem decrescente de importância foram as seguintes:

Amazônia – Caça (Peres et al., 2016) Desmatamento e/ou alteração do habitat (INPE/PRODES, 2017) Extração de recursos Fragmentação do habitat, isolamento, pequenas populações, baixa conectividade Pecuária Fogo (aumento na frequência e intensidade de incêndios) Densidade humana Monoculturas Atropelamentos em rodovias (Freitas et al., 2017)

Mata Atlântica – Caça Desmatamento e/ou alteração do habitat; apesar da proteção legal, o desmatamento da Mata Atlântica continua a uma taxa média de 350 km2/ano, segundo dados da Fundação SOS Mata Atlântica e INPE (2008) Extração de recursos Fragmentação do habitat, isolamento, pequenas populações, baixa conectividade (Medici, 2010) Pecuária Doenças infecciosas (Medici et al., 2014) Atropelamentos em rodovias (Medici, 2010; Medici & Desbiez, 2012) Fogo (aumento na frequência e intensidade de incêndios) Densidade humana (desenvolvimento urbano com a criação de áreas residenciais, comerciais, industriais, de recreação e turismo) Monoculturas Falta do patrulhamento em áreas protegidas Tamanho pequeno de áreas protegidas Impacto do turismo Ataque de cães domésticos (Gatti et al., 2018)

Pantanal – Desmatamento e/ou alteração do habitat (sobretudo perda de florestas ripárias e corpos de água, estabelecimento de pastagens) Pecuária, efeito de pisoteamento no sub-bosque, competição, número de fios das cercas Doenças infecciosas (Medici et al., 2014) Caça e falta de fiscalização Fogo Falta de áreas protegidas Mudanças climáticas (alteração do regime de chuvas) Usinas hidroelétricas planejadas para a região do entorno do Pantanal (alteram o regime dos rios pantaneiros) Mudança no tipo de produção agrícola de pecuária para soja/milho pode levar a contaminação das águas de córregos e possivelmente dos recursos alimentares por agrotóxicos utilizados nestes cultivos.

Cerrado – Atropelamento em rodovias (Ascensão et al., 2017; Desbiez & Medici, 2017; Ascensão et al., 2019; Medici & Abra, 2019; Abra et al., 2020): Entre Março de 2013 e Março de 2020 foram registradas 613 carcaças de antas mortas por colisões com veículos em 34 rodovias estaduais e federais que cortam áreas de Cerrado no Estado do Mato Grosso do Sul (84 meses de monitoramento, aproximadamente 7 antas por mês) (E.P. Medici, com. pess., 2021. Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira (INCAB), Programa Anta Cerrado, IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas); Caça: extração direta de indivíduos (falta de patrulhamento em áreas protegidas); Contaminação por agrotóxicos utilizados na agricultura (particularmente soja, milho e cana-de-açúcar), pecuária e mineração: Entre Setembro de 2015 e Maio de 2017, foram coletadas 242 amostras biológicas procedentes de 29 antas capturadas vivas (para a instalação de colar de telemetria satelital) e de 87 carcaças de antas atropeladas em rodovias do Estado do Mato Grosso do Sul (Medici et al., 2021). Parte do estudo foi voltada para a detecção de resíduos de agrotóxicos e metais pesados. As amostras incluíram: coxim (85), probóscide (17), conteúdo estomacal (27), fígado (26), sangue total (42), osso (22) e unha (23). Os exames de toxicologia detectaram a presença de resíduos de 13 diferentes substâncias tóxicas – incluindo ORGANOFOSFORADOS (diazinon, mevinfos, malationa, diclorvos, dimethoate), PIRETRÓIDES (deltametrina, permetrine), CARBAMATOS (aldicarb, carbaril) e/ou METAIS PESADOS (chumbo, cobre, manganês, cádmio) – em 41% das amostras avaliadas (100/242) (Medici et al., 2021). De acordo com os órgãos governamentais reguladores, todas as substâncias detectadas são consideradas de elevada toxicidade (classificação toxicológica I ou II) e são perigosas ao meio ambiente. Dentre elas, foi encontrado um produto de uso proibido no Brasil (ALDICARB), em elevada concentração e alta prevalência relativa. Os resultados obtidos sugerem um evidente risco à saúde das antas, bem como do homem e de outras espécies que utilizam este ambiente antropizado. Vale salientar que a detecção de agentes tóxicos em amostras de coxim e probóscide confirma que as antas estão expostas a estas substâncias no ambiente que habitam por contato direto com as plantas e/ou solo e/ou água contaminados. A análise de amostras de conteúdo estomacal demonstra exposição pela ingestão de plantas nativas contaminadas e/ou de itens das culturas agrícolas eventualmente utilizados como recurso alimentar. Além disso, a detecção de resíduos de agrotóxicos em amostras de fígado e sangue demonstra que ocorre a metabolização dos agentes tóxicos pelo organismo do animal, o que o predispõe a processos patológicos capazes de interferir na sua longevidade, estado de saúde ou em aspectos reprodutivos extremamente relevantes para a viabilidade da espécie. Amostras de unha e osso nos permitem ainda avaliar o acúmulo de substâncias tóxicas (especialmente de metais pesados) no organismo dos animais ao longo dos anos; Desmatamento e/ou alteração do habitat: perda de hábitat para a espécie; Fragmentação do habitat: isolamento, pequenas populações, baixa conectividade; Pecuária extensiva: efeito de pisoteamento no sub-bosque, competição, número de fios das cercas; Fogo: mortalidade de indivíduos e perda de hábitat; Doenças infecciosas (Fernandes-Santos et al., 2020)

Sobre o IHP

O Instituto Homem Pantaneiro (IHP) é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos. Fundado em 2002, em Corumbá (MS), atua na conservação e preservação do bioma Pantanal e da cultura local. Entre as atividades desenvolvidas pela instituição destacam-se a gestão de áreas protegidas, o desenvolvimento e apoio a pesquisas científicas e a promoção de diálogo entre os atores com interesse na área. As ações prioritárias do IHP são feitas nos pilares para proteção da biodiversidade, mitigação das mudanças climáticas e atuação conjunta com comunidades tradicionais e de povos originários para apoiar o desenvolvimento sustentável. Saiba mais em https://institutohomempantaneiro.org.br/. O IHP também integra o Observatório Pantanal.

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