O ecoturismo e o desenvolvimento sustentável podem caminhar juntos para a geração de oportunidades em comunidades de regiões remotas. No Pantanal, a comunidade do Paraguai-mirim fica a cerca de 2h30 de viagem desde Corumbá (MS) via rio Paraguai acima. Nesse local, os moradores vivem prioritariamente da venda de iscas, e agora buscam novas oportunidades para aproveitar não só o turismo de pesca, mas outras modalidades. Para estarem inseridos nessa nova realidade, o Instituto Homem Pantaneiro (IHP) promoveu o curso de formação de condutores na localidade, em parceria com o Instituto Localiza, o Sebrae/MS, via programa Pró Pantanal, e apoio do Instituto Agwa.
A capacitação envolveu atividades no período integral, usando sala de aula e ações de campo na própria região da comunidade, onde também está a sede do Instituto Agwa. Foram 13 moradores da comunidade que participaram do curso, sendo 10 mulheres. O curso foi feito entre os dias 23 e 27 de outubro de 2023.
A equipe do IHP, que promoveu as aulas com a presença de biólogos, turismólogos, empresários do setor de turismo no Pantanal, especialistas na área de conservação da natureza, ainda montou atendimento especial para atender seis crianças e permitir que as mães pudessem realizar o curso.
Durante esses cinco dias, os alunos saíam de casa logo pela manhã e um barco recolhia todos os participantes, inclusive as cinco mães com os filhos. Ao fim do dia, todos retornavam para suas casas, que ficam às margens do rio Paraguai-mirim e entre cinco a 20 minutos de navegação do local das atividades.
As aulas teóricas foram realizadas dentro do Instituto Agwa, que tem uma base instalada às margens do rio Paraguai-mirim e possui estrutura com internet para atender as demandas de formação. Todos os participantes também fizeram atividades de campo, como observação de aves, identificação da flora local, utilização de técnicas para guia em trilhas na natureza, entre outras ações. No total, o curso de formação de condutores tem carga horária de 40 horas.
Francilene Alpides Silva, 42 anos, trabalha com a coleta de isca, tem seis filhos, e se inscreveu no curso para buscar outras oportunidades de desenvolvimento pessoal. “Muita coisa que eu não sabia aprendi aqui no curso, como o trabalho feito na trilha, o cuidado para não sujar os locais onde podemos passar com os turistas. Isso tudo pode ajudar muito para gente, abre o caminho para novos projetos da gente”, opinou.
O presidente do Instituto Homem Pantaneiro (IHP), Coronel Ângelo Rabelo, participou da abertura do curso e reforçou a necessidade de haver o desenvolvimento sustentável nas comunidades. “A coleta de isca é um trabalho muito exigente e as pessoas precisam ter a oportunidade de poder escolher o que querem fazer. O turismo de contemplação permite abrir essas novas possibilidades e entendemos que isso também era uma vontade dos moradores, após a equipe de socióloga e assistente social do IHP visitar essas comunidades e procurar entender o que elas queriam.”
A diretora do Instituto Localiza, Alessandra Peixoto, ressalta a importância de ser gerada oportunidades para garantir que as comunidades possam continuar vivendo onde gostam e com condições de gerar renda.
“O segmento de turismo de natureza e de base comunitária representa um potencial real para o desenvolvimento de comunidades que vivem junto a patrimônios naturais. Dão a oportunidade aos jovens de áreas mais remotas de se vincularem a uma atividade de geração de renda. Isso auxiliará na permanência dos jovens em seus territórios e permitirá uma experiência incrível para turistas conhecerem a região com a condução de quem nasceu no local. Para o Instituto Localiza é uma satisfação apoiar este projeto do IHP. Temos a expectativa de que unindo os esforços da organização, apoiadores, empresários do turismo e iniciativas públicas na região, possamos acelerar os sonhos dos jovens do Pantanal.
A coordenadora de Competitividade Empresarial do Sebrae/MS, Isabella Carvalho Fernandes, indicou que o mercado do setor está demandando ações afirmativas com relação a questões sociais e ambientais. “Uma experiência turística completa foca no atendimento das necessidades da comunidade anfitriã e o turista já é conscientizado sobre essa necessidade. Sendo assim, pensar em turismo responsável é pensar em competitividade e em negócios. O mercado está em constante evolução.”
Empresária no setor de turismo em Corumbá há mais de 20 anos, Joice Carla Santana Marques promoveu palestra no curso e apontou a necessidade de condutores locais. “A presença de condutores das comunidades permite um ganho enorme para ofertar ao turista passeios que são demandados. Quem quer conhecer o Pantanal, procura pela experiência de quem vive na beira do rio, conhece a natureza como ninguém, deseja experimentar a culinária.”
O presidente do Instituto Agwa, Nelson Araújo, pontuou que o futuro sustentável envolve aproveitar as riquezas que o turismo pode gerar. “Uma das formas de promover um nível mais qualificado para as comunidades ribeirinhas é por meio do ecoturismo e, em termos de Pantanal, é um recurso sustentável. É uma atividade com capacidade de gerar riqueza e por isso os ribeirinhos precisam estar preparados.”
Sobre o IHP
O Instituto Homem Pantaneiro (IHP) é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos. Fundado em 2002, em Corumbá (MS), atua na conservação e preservação do bioma Pantanal e da cultura local.
Entre as atividades desenvolvidas pela instituição destacam-se a gestão de áreas protegidas, o desenvolvimento e apoio a pesquisas científicas e a promoção de diálogo entre os atores com interesse na área.
Os programas que o Instituto atua são Rede Amolar, Cabeceiras do Pantanal, Amolar Experience, Felinos Pantaneiros, Memorial do Homem Pantaneiro, Brigada Alto Pantanal e Estratégias para Conservação da Natureza. Saiba mais em https://institutohomempantaneiro.org.br/. O IHP também integra o Observatório Pantanal.
Pró Pantanal
O Pró Pantanal – Programa de Apoio à Recuperação Econômica do Bioma Pantanal é uma iniciativa do Sebrae para fomentar atividades econômicas nos eixos do turismo, da economia criativa e do agronegócio existentes no Pantanal.
O programa ainda tem apoio da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Federação das Associações Empresariais de Mato Grosso do Sul (FAEMS), Instituto do Meio Ambiente de MS (Imasul) e Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro).
Para obter mais informações sobre o programa Pró Pantanal e suas ações, fale com o Sebrae, pelo pelo número 0800 570 0800. Visite o site oficial do programa clicando aqui.