A recuperação de áreas atingidas por incêndios florestais no Pantanal entrou na reta final com o plantio de milhares de mudas em área de Patrimônio Natural da Humanidade, na região da Serra do Amolar, nos meses de abril e maio de 2023. O IHP (Instituto Homem Pantaneiro) realiza esse trabalho desde 2021, com execução das atividades pela Brigada Alto Pantanal e apoio de parceiros. A etapa de plantio foi concluída em maio de 2023 e agora em junho tem início o processo de monitoramento das mudas plantadas para garantir a recuperação total.
O projeto Mitigação dos efeitos dos incêndios de 2020 e prevenção contra novos incêndios na Serra do Amolar, Pantanal é financiado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) no âmbito do Projeto Estratégias de Conservação, Restauração e Manejo para a biodiversidade da Caatinga, Pampa e Pantanal (GEF Terrestre), que é coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) e tem o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) como agência implementadora e o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade – FUNBIO como agência executora.
Além do plantio que está sendo realizado, para reforçar o trabalho futuro de reflorestamento, o IHP e o Comando da 18ª Brigada de Infantaria do Pantanal firmaram parceria para realização de capacitação de equipe de militares para também executar essa recuperação no bioma. O treinamento com 10 militares multiplicadores está sendo realizado entre os dias 10 e 17 de abril.
“A capacitação apresenta a importância da recuperação de áreas atingidas por incêndios florestais e os desafios de recuperar áreas no Pantanal. Além disso, os militares estão acompanhando a coleta de sementes e produção de mudas. Durante uma semana, esses militares da 18ª Brigada de Infantaria do Pantanal estão dando apoio nas ações de plantio de mudas”, explica o presidente do IHP, Ângelo Rabelo.
Em 2021, o IHP iniciou projeto para mitigação dos efeitos dos incêndios florestais de 2020 na região da Serra do Amolar, incluindo ações de prevenção e combate aos incêndios, realizados pela Brigada Alto Pantanal, além da recuperação, manutenção e monitoramento de áreas atingidas pelo fogo. Nessa linha, foi aprovado projeto do Instituto através da Chamada de Projetos 01/2021, do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO), e do Projeto Estratégias de Conservação, Restauração e Manejo para a biodiversidade da Caatinga, Pampa e Pantanal (GEF Terrestre).
A primeira etapa do projeto tem duração de 18 meses, com conclusão no mês de maio de 2023.
Em outubro de 2022 houve o início das ações de recuperação das áreas com o plantio de mudas. Ao todo, estão sendo recuperados 30 hectares na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Acurizal, com 15 hectares de plantio de 25 mil mudas mudas e outros 15 hectares por meio de regeneração natural. Parte das mudas plantadas foi produzida no viveiro da RPPN Acurizal e parte obtida do Instituto das Águas da Serra da Bodoquena (IASB). Estão sendo plantadas mudas de angico, ipê roxo, ipê branco, paratudo, manduvi, jacarandá, aroeira, cambará, entre outras.
A segunda etapa do trabalho de restauração vai ter início após maio deste ano e vai prosseguir pelos próximos 15 meses. Esse período vai envolver a manutenção e o monitoramento das áreas recuperadas.
“A escolha das áreas a serem recuperadas levou em conta o potencial de regeneração local, ou seja, qual o potencial que as áreas têm de se recuperar sozinhas após o fogo. Nessas áreas serão plantadas cerca de 25 mil mudas de espécies nativas. Parte das mudas está sendo produzida no viveiro do IHP, localizado na RPPN Acurizal. Outras mudas vieram do Instituto das Águas da Serra da Bodoquena (IASB)”, detalha a coordenadora do projeto de recuperação e integrante da equipe do IHP, Angélica Guerra.
O custo global do projeto é de R$ 2,8 milhões, onde parte dos recursos é do GEF Terrestre e o IHP tem contrapartida. Além da recuperação das áreas degradadas, o projeto envolve o apoio de instituições de pesquisa para mitigar e prevenir novos incêndios florestais na região.
Como é feita a restauração ecológica
A restauração ecológica é um processo complexo que visa restabelecer ou melhorar a saúde dos ambientes degradados e alterados. Esse tipo de projeto é muito importante, pois ajuda a preservar a biodiversidade local e a garantir a qualidade de vida para as comunidades que dependem desses recursos naturais.
Conforme a consultoria Restaura, que deu apoio ao IHP e a Brigada Alto Pantanal para realizar a recuperação de áreas degradadas na Serra do Amolar, para realizar um projeto de restauração ecológica é necessário seguir alguns processos e etapas fundamentais:
1. Identificação da área degradada: O primeiro passo é identificar a área que precisa ser restaurada. Essa etapa envolve a coleta de informações sobre a localização, histórico ambiental e uso do solo da área.
2. Avaliação do estado atual da área: A fim de planejar ações adequadas, é necessário avaliar o estado atual da área degradada. Esse mapeamento é essencial para identificar a natureza e a extensão de todos os danos causados ao ecossistema.
3. Definição dos objetivos a serem alcançados: Essa etapa envolve a definição dos objetivos que se espera alcançar com o projeto, como a recuperação de espécies nativas, a melhoria na qualidade do solo e da água e o aumento da biodiversidade.
4. Elaboração do plano de restauração: O plano de restauração é um documento que define as ações que deverão ser realizadas para cumprir os objetivos definidos. Essas ações incluem, por exemplo, a preparação do solo, a escolha das espécies vegetais, as técnicas de plantio, o controle de erosões, entre outras.
5. Implementação das ações previstas no plano: A implementação do plano pode levar vários anos, dependendo do tamanho da área e dos objetivos definidos. Durante essa fase, é importante monitorar a recuperação da área, ajustar as ações conforme necessário e controlar as ameaças que possam afetar o sucesso da restauração.
6. Monitoramento da área restaurada: O monitoramento da área depois de concluída a intervenção é tão importante quanto a própria intervenção. É preciso avaliar se as ações adotadas estão produzindo os resultados esperados, se existe a necessidade de novas intervenções e identificar possíveis dificuldades que possam impedir a efetiva recuperação da área.
Este processo de restauração ecológica é complexo e demorado, mas apresenta grandes benefícios para o meio ambiente e para a sociedade local.
Patrimônio da Humanidade
Em 2020, a região da Serra do Amolar foi atingida pelo maior incêndio já registrado em mais de um século de registros. Cerca de 97% da área foi queimada. Essa região faz parte da Rede de Proteção e Conservação da Serra do Amolar. A Rede Amolar é um programa criado em 2008 pelo IHP, que abrange áreas federais, estaduais e particulares, incluindo o Parque Nacional do Pantanal Matogrossense, sítio de importância internacional pela Convenção de Ramsar.
A Serra do Amolar é classificada pelo Ministério do Meio Ambiente como uma área de conservação de biodiversidade de prioridade extremamente alta. A Unesco denomina essa região como Reserva da Biosfera Mundial e desde 2000 considera o Complexo de Áreas Protegidas do Pantanal (Parque Nacional, RPPN Acurizal, RPPN Penha, RPPN Dorochê e RPPN Rumo ao Oeste) como Patrimônio Natural da Humanidade.
Sobre o IHP
O Instituto Homem Pantaneiro (IHP) é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos. Fundado em 2002, em Corumbá (MS), atua na conservação e preservação do bioma Pantanal e da cultura local.
Entre as atividades desenvolvidas pela instituição destacam-se a gestão de áreas protegidas, o desenvolvimento e apoio a pesquisas científicas e a promoção de diálogo entre os atores com interesse na área.
Os programas que o Instituto atua são Rede Amolar, Cabeceiras do Pantanal, Amolar Experience, Felinos Pantaneiros, Memorial do Homem Pantaneiro, Brigada Alto Pantanal e Estratégias para Conservação da Natureza. Saiba mais em https://institutohomempantaneiro.org.br/. O IHP também integra o Observatório Pantanal.